quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Líderes da indústria e comércio do RN expõem desastre da “facada no sistema S”

Termo utilizado pelo futuro ministro da economia não pegou em todo o país e no Rio Grande do Norte presidentes de entidades empresariais explicam que esse não é o caminho



O discurso do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, durante um almoço com empresários na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), de que iria “passar a faca em todo o sistema S” – Sebrae, Senai, Senac, Sesi, Sesc, Sest, Senat e Senar – não pegou bem no país inteiro e no Rio Grande do Norte líderes empresarias se manifestaram contra esse posicionamento.
Marcelo Queiroz, presidente da Federação do Comércio e Serviços do RN (Fecomércio), considerou que o futuro ministro da Economia teve uma postura conflitante com a que se esperaria de um representante do governo que se elegeu defendendo o diálogo com a classe empresarial e com os setores que contribuem para o desenvolvimento social e econômico do país. Para Queiroz, o ministro demonstrou, inclusive, um certo desconhecimento do trabalho sério e de reconhecida excelência que o Sistema S realiza Brasil afora. “Acredito que, com o início do futuro governo, teremos a chance de discutir este assunto de forma mais aprofundada, serena e transparente. O Sistema S é, sempre foi, parceiro do desenvolvimento Econômico e social deste país. Não tem porque não continuar a ser”, destacou.
Para Amaro Sales, presidente da Federação da Indústrias do RN (Fiern), o país foi surpreendido com declarações do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, de que pretende cortar entre 30% e 50% dos recursos do Sistema S. Segundo Seles, tal medida, se concretizada, irá provocar a extinção de importantes iniciativas e programas, num claro prejuízo aos trabalhadores do Rio Grande do Norte e do país que usufruem dos serviços de educação, saúde, assistência, cultura e lazer mantidos por essas instituições. 
Na avaliação de Amaro Sales, as entidades que integram o Sistema S, como o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), são importantes aliadas do Brasil na promoção de educação básica e profissional, inovação, tecnologia, saúde e segurança no trabalho. Todos os dias dezenas de profissionais formados pelo Sistema S entram no mercado de trabalho. “Acreditamos que o futuro ministro não sabe a importância dessas instituições para o país. Não tem noção do prejuízo que representaria um corte desse tamanho em entidades que têm utilizado, de maneira qualificada e transparente, os recursos destinados pelas empresas privadas para suas ações”, disse.
A proposta do ministro Paulo Guedes de corte de 30% nos recursos do Sesi e Senai, se levada adiante, representará o fechamento de 162 escolas de formação profissional do Senai no Brasil e o corte de 1,1 milhão de vagas em cursos profissionais oferecidos por ano. Desde 1942, o Senai já qualificou mais de 73 milhões de brasileiros. A educação do Senai é reconhecida internacionalmente. Nas últimas edições da WorldSkills, a maior competição de educação profissional do mundo, o Brasil, representado em sua maioria por estudantes do Senai, conquistou o 1º lugar (2015) e o 2º (2017). Além disso, a atuação do Senai é reconhecida pela ONU.
O corte também afetará o Sesi. Nada menos que 155 escolas da instituição no país fecharão suas portas, extinguindo 498 mil vagas para alunos do ensino básico ou na educação de jovens e adultos. Em todo o Brasil, o Sesi recebe, por ano, mais de 1,7 milhão de matrículas em educação básica e continuada e ações educativas, oferecendo qualificação de qualidade e cidadania para os brasileiros. O ensino oferecido pelo SESI tem atestado de qualidade. Com foco em ciências, tecnologia, engenharia, matemática e artes, a abordagem das 505 escolas do SESI vem trazendo resultados positivos, como o bom desempenho em português e matemática dos alunos do 5º ano do ensino fundamental na Prova Brasil – as médias foram superiores a dos alunos da rede privada.
Facada do sistema S vai provocar desemprego em massa   
Os danos do corte proposto pelo ministro Paulo Guedes se estenderão também à empregabilidade. Cerca de 18,4 mil trabalhadores do Sesi e do Senai (a maioria educadores) em todo o país terão de ser dispensados. Isso num momento em que o país luta para diminuir os índices de desemprego, que atingem mais de 14 milhões no país e que deveria merecer prioridade do novo governo.
Também serão cancelados os atendimentos em saúde para 1, 2 milhão de pessoas. O Sesi beneficia, por ano, mais de 4 milhões de trabalhadores com serviços de SST e promoção da saúde. São cerca de 770 mil consultas, 2,5 milhões de exames ocupacionais e 1 milhão de vacinas. “Importante ressaltar que o custeio do Sesi e Senai se dá por meio da contribuição das empresas industriais, ou seja, de verbas do setor privado.  Não entra um centavo do Governo Federal no Sistema “S”, que é mero repassador dos recursos arrecadados junto ao segmento industrial”, ressaltou Amaro Sales.
Ele defende que o governo federal corte o excesso da máquina pública para buscar o financiamento de suas atividades e não retirar recursos de um sistema consolidado por mais de sete décadas de serviços prestados ao país. “É incompreensível que tente destruir uma das raras iniciativas que deu certo no Brasil e é referência mundial, sobretudo na área de ensino profissionalizante.  O país precisa mudar, mas não será com medidas equivocadas e falsamente miraculosas e bombásticas que construiremos um futuro melhor para todos”, apontou Sales.

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